quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

VERDADES E MENTIRAS DO CASAMENTO

Por Cláudia Morais


TODAS AS RELAÇÕES TÊM UM FIM.
ERRADO: O divórcio pode alterar a forma como algumas pessoas encaram o amor e o casamento. No entanto, este pessimismo não é generalizável. Embora o número de divórcios seja cada vez maior, a maior parte das pessoas continua a sonhar com um amor para toda a vida. Mesmo que não acertem à primeira, vale a pena continuar a acreditar, principalmente porque os casos de sucesso existem - só não fazem capas de jornais. De um modo geral, as pessoas insatisfeitas com o casamento são mais pessimistas em relação ao casamento. As pessoas felizes do ponto de vista conjugal acreditam que é possível ter relações duradouras.

FAZER AS PAZES É A MELHOR PARTE DAS DISCUSSÕES.
VERDADEIRO:
As discussões não são nada agradáveis, mas são incontornáveis. Os casais felizes não só reconhecem a sua importância, como conseguem terminá-las canalizando a sua energia para a reaproximação. Para estas pessoas, depois do desgaste, a vontade de estar com o cônjuge, de o tocar, aumenta significativamente.

OS MODELOS FAMILIARES CONDICIONAM A FORMA DE AMAR.
VERDADEIRO:
O vínculo que cada pessoa estabelece com os seus pais e os padrões de relacionamento veiculados pela família de origem condicionam as relações amorosas vividas na idade adulta. Ainda que de forma inconsciente, estes modelos relacionais influenciam a escolha do companheiro e o tipo de relação conjugal. Assim, a compreensão destes padrões pode ser útil na ajuda aos casais em crise.

A FRONTALIDADE, A QUALQUER PREÇO, É FUNDAMENTAL.
ERRADO: Apesar de muitas pessoas se assumirem orgulhosamente como frontais, o sucesso da comunicação, em geral, e entre o casal, em particular, depende de outras variáveis. Assim, a honestidade só é útil se for sistematizada sem ferir, humilhar ou desrespeitar o cônjuge. Os casais felizes preocupam-se um com o outro e esforçam-se no sentido de evitar comentários hostis. Há muitas formas de se expressar uma ideia, mas a assertiva é preferível à agressiva.

NUMA DISCUSSÃO CONJUGAL, HÁ SEMPRE UM QUE TEM RAZÃO.
ERRADO: Os casais felizes encaram as discussões como um processo em que um só ganha se o outro também ganhar. Estas pessoas não estão preocupadas com a necessidade de provar que a sua perspectiva é muito melhor do que a do cônjuge, nem esperam encontrar uma vítima e um culpado. Reconhecem que os consensos advêm da capacidade de ceder e tolerar.

A SATISFAÇÃO CONJUGAL DEPENDE DA SATISFAÇÃO SEXUAL.
VERDADEIRO: A noção de satisfação sexual veiculada socialmente está mais relacionada com a frequência do que com a qualidade das relações sexuais. No entanto, a satisfação conjugal depende mais do prazer que os membros do casal sentem e do desejo que manifestam do que da regularidade com que mantêm relações sexuais. A frequência pode variar de casal para casal. Só é possível falar em dificuldades quando há uma redução significativa e sem justificação aparente. A redução prolongada do desejo ou do prazer é uma consequência e um sinal de que há problemas na relação conjugal.

MUDAR O CÔNJUGE É UMA TAREFA IMPOSSÍVEL.
VERDADEIRO:
O deslumbramento do início das relações dá, progressivamente, lugar à descoberta do “lado lunar” de cada um. Essa auto-revelação mútua implica que as pessoas tenham a capacidade de reconhecer que há defeitos do cônjuge com os quais têm que aprender a viver, do mesmo modo que gostariam que os seus fossem aceites. As pessoas que vivem na expectativa de conseguir moldar o companheiro de acordo com todos os seus desejos, sentem-se extremamente insatisfeitas com o casamento. De facto, essa é uma tarefa impossível.

NÃO SE PEDE DESCULPAS, EVITA-SE.
ERRADO: Grande parte das discussões conjugais é ultrapassada com um pedido de desculpas. As pessoas que, depois de “esfriarem a cabeça”, são capazes de identificar os erros cometidos e admiti-los perante o cônjuge, revelam maior inteligência emocional do que aquelas que se mantêm aprisionadas no seu próprio orgulho. Se ambos tiverem esta habilidade, a probabilidade de se perdoarem mutuamente é muito grande.

É IMPORTANTE MANTER A PRIVACIDADE EM RELAÇÃO AOS SOGROS.
VERDADEIRO: A família de origem contribui activamente para a estabilidade do casal – se a relação for de qualidade, o casal sente-se mais satisfeito e, pelo contrário, se houver conflitos, o casamento é fortemente abalado. Mas isso não implica que os pais/sogros devam interferir nas decisões ou na intimidade do casal. É importante que os cônjuges definam limites claros e equitativos à interferência das duas famílias de origem.

AS TAREFAS DOMÉSTICAS DEVEM SER DIVIDIDAS A DOIS.
VERDADEIRO: Os casais bem sucedidos fazem uma divisão equitativa dos direitos e dos deveres. O poder é, assim, dividido pelos dois, bem como as responsabilidades relativas à casa e aos cuidados prestados aos filhos. Nos casais de dupla carreira este parâmetro é ainda mais relevante, já que qualquer outro tipo de divisão implicaria uma sobrecarga de um dos cônjuges. As diferenças de género veiculadas socialmente são ultrapassáveis, desde que ambos reconheçam que, na generalidade dos casos, os homens estão em desvantagem. Por isso, é necessário esforço e tolerância.

O SEGUNDO CASAMENTO É MAIS COMPLICADO QUE O PRIMEIRO.
VERDADEIRO:
De um modo geral, o início do segundo casamento envolve mais desafios do que o primeiro. Antes de mais, os cônjuges não partem do zero, o que implica a necessidade de se desvincularem da primeira experiência. Por outro lado, a existência de filhos anteriores ao casamento acarreta maior complexidade ao nível das relações, já que os membros do casal são “forçados” a desempenhar vários papéis novos.

SÓ É POSSÍVEL AMAR VERDADEIRAMENTE UMA VEZ.
ERRADO: Apesar de a maior parte da cultura literária e cinematográfica insistir em veicular esta idéia, não existe apenas uma “alma gêmea” para cada pessoa. Embora ninguém se case a pensar no divórcio, esta etapa do ciclo de vida não deve ser encarada como o fim da linha, no que diz respeito ao amor. Depois de fazerem o “luto” pela relação, a maior parte das pessoas divorciadas volta a amar, atingindo novamente a estabilidade emocional.

QUEM NÃO SENTE CIÚMES, NÃO AMA.
ERRADO: Nem todos os ciúmes são patológicos ou prejudiciais à relação. No entanto, nem todas as pessoas satisfeitas com o casamento sentem ciúmes do seu cônjuge. Mais: à medida que os anos passam, os casais felizes sentem cada vez menos ciúmes. Quanto maior for a confiança entre os membros do casal, maior a estabilidade emocional e, consequentemente, menor a probabilidade de um dos cônjuges ser ciumento.

O CASAMENTO IMPLICA DEIXAR DE SAIR COM OS AMIGOS.
ERRADO:
Algumas pessoas amedrontam-se com o casamento porque consideram que esse compromisso implica grandes desvantagens em termos da autonomia e das saídas com os amigos. No entanto, isso só acontece nos maus casamentos. Embora existam períodos de maior afastamento em relação à rede social – fases de maior intensidade profissional, nascimento dos filhos, etc. -, de um modo geral, os casais felizes reconhecem a importância dos encontros com os amigos e fomentam-nos. Para estas pessoas, o casamento não é motivo de isolamento. Pelo contrário, este passo implica a ampliação da rede de amigos.

O CASAMENTO É UM MAR DE ROSAS.
ERRADO: Há fases de grande intimidade entre os membros do casal e fases de grande afastamento. Independentemente das mudanças por que um casal passa ao longo do ciclo de vida, também há mudanças individuais. As alterações vividas no universo extraconjugal influenciam em larga escala o estado emocional dos cônjuges, pelo que é natural que existam períodos de menor sintonia. Como o casamento é um conjunto de memórias, quanto mais memórias positivas vividas a dois existirem, maior a probabilidade de os membros do casal ultrapassarem os períodos de afastamento.

O MEU CÔNJUGE SABERÁ SEMPRE O QUE EU QUERO, SEM QUE SEJA PRECISO QUE EU LHE DIGA.
ERRADO: Um dos “segredos” para o sucesso das relações, em geral, e dos casamentos, em particular, está na clareza da comunicação. Numa relação amorosa, esperar que o cônjuge tenha a capacidade de “ler pensamentos” implica correr riscos desnecessários. É verdade que, quanto maior for o entendimento entre os membros do casal, maior a probabilidade de se conhecerem mutuamente e, assim, anteciparem as respectivas necessidades. Contudo, as expectativas de cada pessoa em relação ao seu companheiro devem ser expostas de forma clara e honesta, para que este possa agir em conformidade. Caso contrário, o casal expõe-se a equívocos de comunicação que podem ser perigosos.

O AMOR É SUFICIENTE PARA QUE HAJA BOM ENTENDIMENTO SEXUAL.
ERRADO: As perturbações relacionadas com a sexualidade podem ter diversas origens. Nalguns casos, há alterações fisiológicas, que requerem a intervenção especializada. Noutros, há constrangimentos psicológicos que podem ser mais ou menos graves. A resolução destas dificuldades depende muito da capacidade dos membros do casal para exporem as suas dúvidas, as suas inseguranças, ou até os seus bloqueios, de forma honesta. Quanto maior o diálogo entre os cônjuges, maior a probabilidade de ultrapassarem com sucesso as suas dificuldades. A comunicação aberta e livre de preconceitos permite que os casais resolvam, por si próprios, muitas destas dificuldades. E, quando isso não é possível, permite-lhes chegar rapidamente à conclusão de que precisam de recorrer à ajuda especializada.

O MEU CÔNJUGE COMPENSAR-ME-Á POR TODAS AS FRUSTRAÇÕES DO PASSADO.
ERRADO:
A vida a dois constitui uma oportunidade para que as pessoas possam formar a sua própria família nuclear, desvinculando-se de alguns padrões de relacionamento negativos da família de origem ou de relações anteriores. Os membros do casal têm, por isso, oportunidade de “escrever” a sua própria história à medida dos valores e dos princípios de vida em que acreditam. Contudo, nem o passado pode ser apagado, nem ninguém tem varinhas de condão capazes de transformar a realidade num conto de fadas. Cada pessoa deve esperar do seu cônjuge um conjunto de qualidades e defeitos. Nesse sentido, é natural que nem todas as experiências vividas a dois sejam positivas. Todos os cônjuges erram e não devem ser crucificados por isso. Pelo contrário, os conflitos permitem que a relação amadureça.

O CONFLITO É MAU PARA A RELAÇÃO.
ERRADO:
O conflito, por si só, não é prejudicial à relação. O problema está na forma como os casais discutem. Aqueles que transformam cada discussão numa batalha da qual só um sairá vencedor, tendem a sentir-se encurralados nos próprios conflitos. Mas os casais que encaram as divergências como parte integrante da relação amorosa, capaz de contribuir para a intimidade do casal, ultrapassam com relativa facilidade as divergências.


Alguns mitos associados à conjugalidade são veiculados com tanta força que se transformam em verdades inquestionáveis. Importa analisá-los e perceber até que ponto correspondem à realidade.

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