quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Antibiótico: Pode ou não pode?

São 42 perguntas e respostas, muitas vezes, surpreendentes.

* por Adriana Toledo

1. Pode tomar sem receita médica?
Não pode. Para começo de conversa, o antibiótico é o medicamento indicado quando você foi infectado por uma bactéria. E só um médico consegue apontar se determinado problema foi mesmo causado por uma bactéria ou se é conseqüência do ataque de vírus e outros microorganismos, contra os quais nenhum antibiótico fará o menor efeito. Sem contar que algumas bactérias sucumbem depressa a certos remédios, mas resistem a outros. Ou seja, a figura do médico também é importante para se chegar ao antibiótico ideal para cada caso. Para completar, há outras variáveis. Por exemplo: a duração do tratamento costuma variar conforme o órgão acometido. Mais um motivo para você ser bem orientado antes de engolir um remédio desses.

2. Pode o médico acertar na escolha do antibiótico só pelo olhar clínico, sem fazer nenhum outro exame?
Até pode. Um médico experiente consegue, muitas vezes, acertar na escolha da droga somente com base em uma boa avaliação, que inclui o exame físico, o relato dos sintomas, o histórico daquele indivíduo e as observações sobre seu estado de saúde geral. Mas, claro, ele sempre poderá solicitar exames complementares. Em casos assim, um antibiograma funciona como prova dos nove, testando a reação da bactéria causadora daquela infecção a diversos antibióticos. O resultado acusa que remédio seria o mais eficaz para derrotá-la.

3. Pode um antibiótico matar todo tipo de bactéria?
Não pode. Cada microorganismo é sensível a determinadas drogas e, ainda assim, para ser destruído vai exigir uma concentração e um período de tratamento específico. Moral da história: para cada bactéria, uma sentença.

4. Pode tomar antibiótico só como prevenção, logo nos primeiros sinais de uma dor de garganta, por exemplo?
Não pode. Se a dor de garganta estiver sendo causada por um vírus – aliás como na maioria dos casos de dor de garganta – engolir antibiótico será, no mínimo, ineficaz. Sem contar que o remédio usado indevidamente poderá abrir a brecha para a entrada de bactérias resistentes a medicamentos e bem perigosas. É a famosa história do tiro que sai pela culatra.

5. Pode demorar mais de 24 horas para o antibiótico proporcionar algum alívio nos sintomas de uma infecção?
Pode, sim. Alguns sintomas, como a febre, podem demorar até 72 horas para desaparecerem de vez. No entanto, é importante que, ao longo desse período, você já note pequenas melhoras, progressivas, na sensação de dor e mal-estar. Se nada está melhorando, volte a conversar com o médico.

6. Pode o uso de um antibiótico errado agravar uma infecção, piorando os sintomas de vez?
Pode. Imagine que, em seu corpo, diversas bactérias competem entre si. Quando alguém toma um antibiótico errado para tratar o seu caso, tanto bactérias inocentes, que não causam problemas, quanto alguns tipinhos encrenqueiros, mas fracos, acabam morrendo. Aí é como se o verdadeiro vilão da história ficasse livre de concorrência para povoar e dominar o organismo. Vale repetir o conselho de sempre: em qualquer infecção, a avaliação médica é fundamental. Só um especialista sabe dizer quando tomar antibiótico e que tipo de antibiótico tomar.

7. Pode um antibiótico matar, quando tomado em doses muito exageradas?
Pode, em tese. Como qualquer outro remédio, o antibiótico se torna tóxico em doses excessivas. Aí é capaz de comprometer os rins, o fígado ou até mesmo causar convulsões.

8. Pode um antibiótico causar alergia?
Pode. Fique claro: qualquer remédio pode ser o estopim de reações alérgicas. Entre os antibióticos, a penicilina é uma das que mais provocam respostas do gênero, causando desde erupções de pele a choques anafiláticos em quem apresenta tendência à alergia.

9. Pode um antibiótico provocar dor de estômago?
Pode. Alguns princípios ativos de antibióticos comuns irritam as paredes estomocais, gerando o desconforto.

10. Pode esse tipo de medicamento causar dor de cabeça?
Pode. Alguns antibióticos, como o metronidazol, são capazes de causar dores de cabeça em pessoas mais sensíveis.

11. Pode o antibiótico causar sonolência e moleza no corpo?
Não pode. Esse é o tipo de efeito colateral que nunca aparece com o uso de antibióticos. Ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos e até alguns antialérgicos é que costumam deixar seus usuários com um sono danado. Se você está se tratando de uma infecção e anda sonolento, é mais provável que isso seja sinal da doença em si. Ou, talvez, do fato de não ter se alimentado nem dormido direito por causa dela.

12. Pode um antibiótico disparar problemas de pele?
Ah, pode. Embora isso seja mais raro do que os sintomas gastrointestinais, o uso de algumas drogas costuma deflagrar erupções cutâneas.

13. Pode ser necessária uma troca de antibiótico, se houver dor de estômago ou sensação de enjôo?
Pode, mas em casos raríssimos e específicos, quando a pessoa apresenta outros problemas estomacais e náuseas insuportáveis. Aí, o médico deve avaliar a situação. Mas, na maioria das vezes, o veredicto é agüentar firme e seguir em frente. Dor e náusea desaparecerão após o tratamento e, enquanto ele durar, o foco deve ser acabar com a bactéria por trás da infecção.

14. Pode o apetite ir para o espaço durante o tratamento com antibióticos?
Pode, porque alguns desses remédios agridem o estômago e outros, o fígado. Em ambos os casos, a conseqüência é uma só: enjôo. E, claro, por mais leve que ele seja, é capaz de arrasar com o apetite.

15. Pode dar diarréia?
Pode. É triste dizer, mas vários antibióticos têm esse efeito porque acabam com as bactérias benéficas que formam a flora intestinal. Sempre é bom conversar com o médico para esclarecer esse risco com a medicação que ele está prescrevendo.

16. Pode uma mulher que toma pílula anticoncepcional se tratar com antibióticos?
Pode e deve, se ela está com alguma infecção bacteriana e não há outra saída. A questão é que alguns antibióticos interferem nos anticoncepcionais, comprometendo seu efeito. Ou seja, melhor avisar o médico sobre o uso do contraceptivo para que ele possa fazer uma prescrição mais adequada, ou seja, com menor risco de bangunçar com o planejamento familiar.

17. Pode uma grávida tomar antibióticos?
Pode, mas com restrições. Alguns antibióticos são, de fato, contra-indicados para gestantes. Nenhuma grávida deveria tomar esse tipo de remédio sem conversar com o obstetra. Ele é o profissional apto a indicar o que está liberado nesses nove meses.

18. Pode uma criança muito pequena precisar de antibiótico?
Pode, apesar de que toda criança muito pequena deve ser amamentada no peito. E lembre-se: bebê que se beneficia do aleitamento materno dificilmente pega uma infecção. Quando adoece e a causa é uma bactéria, nem todo remédio usado em adultos surte o efeito desejado, como se, no organismo do pequeno, a droga se comportasse de um jeito diferente. Por isso, o pediatra é fundamental. Ele conhece quais são os medicamentos que agem da maneira esperada no organismo da criança muito pequena.

19. Pode tomar antibióticos com antiinflamatórios ou com antiácidos?
Não pode. Muita gente apela para os antiácidos a fim de driblar o mal-estar gástrico provocado pelo antibiótico, sem saber que, desse jeito, ele pode não ser absorvido direito. Já os antiinflamatórios não prejudicam o efeito do antibiótico em si, mas a união dos dois medicamentos representa uma bomba para o estômago. É dor na certa.

20. Pode ser feito um exame de sangue no período em que a pessoa está se tratando com antibiótico?
Pode. Aliás, muitas vezes os médicos solicitam exames de sangue para checar se a infecção está sendo debelada com o medicamento.

21. Pode combinar dois antibióticos para curar uma infecção?
Pode, principalmente nos casos de infecções graves. Imagine que, em episódios assim, a idéia é promover uma espécie de cerco ao micróbio nocivo. Além disso, a combinação de dois ou mais antibióticos pode ser uma estratégia quando os médicos percebem que uma infecção está avançando, mas ainda não flagraram o microorganismo culpado. Então, usaram diversas armas ao mesmo tempo, na esperança de que uma delas seja adequada para acertar no inimigo.

22. Pode uma pessoa que toma antibiótico fazer exames que necessitam de injeção de contraste?
Pode, a não ser que o remédio ou a própria infecção esteja prejudicando o funcionamento dos rins do paciente. Afinal, o contraste é eliminado por esses órgãos.

23. Pode engolir antibiótico em jejum?
Pode. Aliás, alguns desses medicamentos até devem ser tomados de estômago completamente vazio para otimizar o efeito. Peça orientação ao seu médico.

24. Pode tomar antibiótico junto com a refeição?
Não pode. Alguns alimentos interferem na absorção do remédio. Converse com seu médico e, para evitar maiores riscos, prefira outro horário para tomar o medicamento.

25. Pode tomar antibiótico com leite para que o remédio não cause dor de estômago?
Não pode. O leite não aliviará em nada os sintomas no estômago, sem contar que prejudica o aproveitamento de certos antibióticos. Na dúvida, converse com o médico.

26. Pode engolir o antibiótico com um suco de frutas?
Não pode, conforme o tipo de droga. No caso da penicilina, da tetraciclina, da eritomicina e da rifampicina, os sucos de uva e de laranja atrapalham a absorção e reduzem o efeito do remédio, segundo um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista. É claro que, se for um golinho só, para empurrar a cápsula ou o comprimido para dentro, não haverá maiores prejuízos. Em tempo: o cloranfenicol, outro princípio ativo de antibióticos, não teve sua ação diminuída quando consumido com sucos.

27. Pode tomar antibiótico junto com refrigerante?
Pode, desde que, por segurança, a pessoa beba uma quantidade mínima, apenas o suficiente para não engolir o remédio a sexo. Não há estudos mostrando se os componentes dos refrigerantes são capazes de interferir na ação dos antibióticos quando os dois são ingeridos ao mesmo tempo. No entanto, como esses medicamentos são muito sensíveis, nunca é bom arriscar.

28. Pode alguém que está se tratando com antibiótico tomar álcool?
Não pode. O álcool induz um aumento da diurese e, como o antibiótico é eliminado pela urina, isso acelelaria sua passagem pelo organismo, por assim dizer. Ou seja, em tese, a dose do remédio poderia ir embora com o xixi antes de cumprir sua missão no corpo. Sem contar que a associação da bebida com alguns antimicrobianos – como as sulfonamidas-- pode levar a graves efeitos colaterais, como dores de cabeça muito fortes, falta de ar, náuseas, queda da pressão arterial, fraqueza, vertigens, confusão mental e até desmaio. Quem vai querer arriscar uns goles depois de ler uma lista dessas?

29. Pode tomar a dose do remédio com mais de uma hora de atraso?
Pode e deve. O ideal seria você ser pontual sempre. O intervalo entre as doses de antibiótico é calculado para que o medicamento se mantenha em uma concentração mínima para fazer efeito na circulação sangüínea. Se você perde a hora, como o remédio é eliminado aos poucos pelos rins, é provável que essa concentração fique aquém do desejável. E é melhor corrigir a falha depressa, isto é, engolir a dose com atraso.

30. Pode tomar uma segunda dose no horário programado inicialmente, se a dose anterior foi consumida com atraso?
Não pode. Porque desse jeito, na melhor das intenções, você irá bagunçar a situação de vez. O certo é recomeçar a contagem do tempo, considerando o intervalo estipulado pelo médico ou pela bula, a partir do horário em que engoliu a dose em atraso. Exemplo: era para tomar o remédio ao meio-dia e, depois, às 8 da noite? Então, se por um esquecimento você só tomou o antibiótico às 13 horas, marque a dose seguinte para as 21 horas, alterando toda a programação dali em diante.
31. Pode confiar em antibióticos genéricos?
Pode, porque esses medicamentos são fabricados com os mesmos princípios ativos e as mesmas dosagens de componentes dos antibióticos de marca. E recebem a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, garantindo que são iguais à versão original.

32. Pode confiar que um antibiótico similar fará o mesmíssimo efeito de um antibiótico genérico ou de um remédio de marca?
Não pode. De acordo com a lei, o genérico precisa ser idêntico ao remédio de marca. Já os medicamentos similares precisam provocar efeitos, como o próprio nome indica, similares. Alguns chegam a usar substâncias ligeiramente diferentes na fórmula em relação à versão original, mas que causam reações parecidas no organismo. Ora, quando a meta é derrotar uma bactéria nociva, as semelhanças podem não ser suficientes. Antes de comprar, fale com seu médico e veja a opinião dele.

33. Pode acreditar em uma receita que manda tomar antibiótico por apenas três dias?
Pode. As pessoas imaginam que os tratamentos com antibiótico sempre se prolongam por mais de uma semana, mas nem sempre é assim. A duração do tratamento varia muito de acordo com o tipo de doença infecciosa. O órgão acometido também deve ser levado em consideração. Uma infecção dos pulmões, por exemplo, costuma ser tratada por duas ou três semanas. Já infecções mais simples podem sim ser combatidas com apenas três doses, ou até com uma dose única, dependendo do princípio ativo escolhido pelo médico.

34. Pode estragar os dentes?
Pode. Alguns antibióticos, como os do grupo das tetraciclinas, deixam manchas marrons no sorriso de crianças. Elas são permanentes e parecem estar mais relacionadas a doses elevadas consumidas em um curto espaço de tempo do que à utilização do remédio por períodos prolongados, como antes se pensava. O risco de manchar a dentição é maior quando o medicamento é usado em crianças menores de 6 meses, embora continue existindo até por volta dos 5 anos. Explica-se: até essa idade, mais ou menos, os dentes permanentes estão sendo calcificados. Aí, quando o pior acontece, já nascem manchados.É bom avisar ainda que, quando a mulher consome certos antibióticos durante a gestação, o remédio pode tingir de marrom os dentes da criança.

35. Pode a pessoa ficar mais sujeita a doenças, se ela tem mania de tomar antibiótico sempre?
Pode. Nosso organismo é naturalmente colonizado por um grande número bactérias, que constituem a chamada flora normal. Elas se encontram na pele, na cavidade oral, nos genitais, no nariz, nas fezes...Nem todas são boas, só porque vivem conosco. Nada disso. O que se pode dizer, isso sim, é que, boas ou más, todas vivem sob controle. Até que você resolve tomar antibiótico a todo instante, por exemplo. Aí, os exemplares mais fracos morrem e os mais resistentes, causadores de encrenca, ganham espaço e condições, ao pé da letra, para crescer. Quando crescem demais, você já sabe o final da história: você adoece.

36. Pode o uso freqüente de antibióticos fragilizar o organismo para infecções hospitalares se a pessoa, por azar, precisar ser internada um dia?
Pode. Essas infecções, geral, são provocadas por bactérias resistentes a muitos antibióticos, o que torna difícil seu tratamento. Às vezes, esses microorganismos já vivem no corpo do próprio paciente e invadem determinado órgão devido a procedimentos hospitalares, como a utilização de cateteres para administração de medicamentos. Por isso, o melhor mesmo é tomar cuidado para não fortalecer bactérias maléficas que vivem naturalmente em nosso corpo, apelando para antibióticos somente quando necessário.

37. Pode deixar de tomar antibiótico, se foi o dentista que o indicou?
Não pode! O profissional de odontologia participou de muitas aulas de microbiologia e de farmacologia nos tempos de faculdade e, na prática clínica, atende pacientes com doenças infecciosas da boca. Portanto, tem formação adequadíssima para prescrever antibióticos e suas recomendações devem ser cuidadosamente seguidas.

38. Pode uma pessoa cardíaca precisar de antibiótico mesmo sem ter uma infecção?
Pode, especialmente se ela apresenta problemas nas válvulas cardíacas. No caso, o médico ou o dentista costuma prescrever antibióticos sempre que o paciente está prestes a se submeter a um procedimento cirúrgico ou odontológico. O objetivo é evitar que bactérias da boca migrem para o coração, já que esses indivíduos são mais suscetíveis a infecções no músculo cardíaco. Alguns dentistas, por segurança, optam por prescrever antibióticos a todo paciente que vai passar por uma cirurgia dentária.

39. Pode um antibiótico levar a problemas nos rins?
Pode. Existem antibióticos que apresentam um potencial tóxico para os rins. Em geral, são de uso hospitalar e, quando prescritos, é necessária uma constante monitoração da função renal por meio de exames de laboratório.

40. Pode trocar de antibiótico no meio de um tratamento já iniciado?
Pode, mas só se aparecer um efeito colateral extremamente grave, capaz de impedir a continuidade do tratamento, ou se há sinais de que a infecção está ficando cada vez pior e o remédio atual não está fazendo efeito. Lembre-se: só o médico pode fazer trocas assim.

41. Pode interromper o uso do antibiótico se os sintomas desapareceram há mais de 24 horas?
Não pode de jeito algum. O antibiótico deve ser mantido pelo tempo de tratamento estipulado pelo especialista. A interrupção precoce pode provocar recaídas com um quadro clínico pior do que o inicial.

42. Pode pingar colírio antibiótico nos olhos sem consultar o oftalmologista?
Não pode. Não é por estar na forma de colírio que o antibiótico irá receber, digamos, concessões especiais. Vale o de sempre: procurar um médico, no caso o oftalmologista, para que ele cheque se é uma infecção bacteriana e prescreva o remédio.


Fontes:


* Rinaldo Poncio Mendes, professor da disciplina de Moléstias Infecciosas e Parasitárias, da Universidade Estadual de São Paulo, em Botucatu, no interior paulista;

* Artur Timerman, infectologista do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, em São Paulo e

* Aldo Silveira, infectologista do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo.

(fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0303/medicina/conteudo_395704.shtml?pag=2)

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