sábado, 23 de maio de 2009

APELO DO PACIENTE...


À EQUIPE MÉDICA E À ENFERMAGEM

Evaldo A. D´Assumpção
Cirurgião Plástico, Biotanatólogo e Bioeticista


“Quando me levarem para a sala de cirurgia, por favor, não me deixem sozinho e sem qualquer informação sobre o que será feito em seguida. Para vocês, o Bloco Cirúrgico é bastante conhecido, tudo nele lhes é familiar. Afinal vocês passam, nele, uma grande parte de seu dia. Mas, para mim, mesmo que não seja minha primeira cirurgia, tudo é novidade, tudo é assustador. Contudo, se alguém conhecido, especialmente o meu cirurgião ou um dos membros de sua equipe que eu já conheço, estiver junto de mim, estarei seguro e me será fácil enfrentar tudo o que vier em seguida. Melhor ainda se esta pessoa puder segurar, carinhosamente, a minha mão...

Ao me passarem para a mesa de cirurgia, por favor me cubram com algo para me aquecer. A sala de cirurgia é sempre muito fria, mesmo no verão. Mais ainda quando o ar condicionado está funcionando. Como vocês estão completamente vestidos, muitos já com o capote e as luvas cirúrgicas, certamente não imaginam o frio que se sente com uma simples camisola. Especialmente quando, além de tudo, se é aquele que será operado!

Se possível, evitem arrumar os equipamentos e instrumentos cirúrgicos, enquanto eu estiver acordado na mesa de cirurgia. É extremamente estressante ver todo aquele instrumental e aparelhos que deverão ser usados em mim. Sei que tudo será em meu benefício, mas, nem por isto os ruídos de instrumentos sendo colocados em uma mesa deixam de ser causa de muito temor e angústia para mim. Façam-na, pois, antes da minha chegada, evitando-me mais este sofrimento.

Não comentem defeitos de equipamentos, nem reclamem da falta de algum medicamento na sala de cirurgia, depois que eu estiver lá dentro ou onde possa escutar tais reclamações. É terrível saber que determinado material está faltando ou que se apresenta defeituoso, tendo-se consciência de que ele deverá ou deveria ser usado em meu tratamento. Certamente minha angústia diante de tal fato irá contribuir, sensivelmente, para complicações posteriores.

Quando forem me preparar, respeitem o meu pudor. É extremamente desagradável ver-se despido diante de tantas pessoas, mesmo sabendo que são profissionais acostumados a estas situações. Mas, por favor, lembrem-se de que eu não estou acostumado a me despir diante de pessoas estranhas!

Respeitem também, eu lhes peço, o meu medo. Mesmo os maiores heróis, diante de uma situação de cirurgia iminente em si próprios, certamente irão tremer. Afinal, tudo é estranho, tudo é ameaçador. Se eu pedir para esperarem um pouco, não percam a paciência comigo. Afinal, a profissão de vocês é esta e eu espero que a exerçam com muito amor. Se me explicarem, em linguagem compreensível para um leigo, o que vai ser feito, certamente vou entender - eu não sou “burro!” - e então poderei cooperar com todos. Mas, lembrem-se: cada pessoa tem o seu próprio tempo para se acalmar. Respeitem, pois, o meu tempo!

Se eu não estiver cooperando como vocês gostariam, desculpem-me e ajudem-me a tranqüilizar para melhor ajudá-los. Não me tratem com impaciência nem me agridam com reprimendas ríspidas. Afinal, eu nada sei de cirurgia e se me movimento ou coloco a mão onde não devia, não o faço por mal. São atos instintivos de defesa que realizo por desconhecer as regras e as necessidades técnicas, mas também pelo medo de algo que me ameaça. Vocês já pensaram que podem ser vocês mesmos, a ameaça de que tanto tenho medo? Tratando-me com carinho e paciência, certamente irão me conquistar e eu irei ajudá-los muito mais do que pensam!

Se a anestesia utilizada for a local ou a regional, certamente eu estarei acordado e muito atento a tudo que se passar em redor de mim. Mesmo com alguma sedação, o meu medo me fará estar extremamente ligado a tudo o que eu imaginar ou me parecer ligado à minha pessoa. Portanto, evitem conversas que podem demonstrar desinteresse pelo meu tratamento. Vocês podem estar tão descontraídos que falarão de futebol, programas de televisão ou de política, com a maior naturalidade. Mas isto irá me parecer um grande desinteresse pelo que estão me fazendo. E eu irei sofrer muito mais do que já estarei sofrendo. Se surgirem complicações no pós-operatório, certamente irei atribuir este fato ao desinteresse da equipe durante a cirurgia.

Se a anestesia for geral, durante a indução da anestesia, por favor, façam todo o silêncio possível. Naquele momento de passagem da consciência para a inconsciência, tudo o que acontecer na sala será de extrema importância para mim. Poderei dormir com segurança e tranqüilidade ou então inteiramente transtornado por tudo o que ouvi, sem compreender o que acontecia. E depois de anestesiado, lembrem-se de que continuo merecendo todo o respeito como quando acordado. Zombar de mim, do meu modo de ser ou de falar, do meu corpo, será uma enorme falta de ética e de caráter, coisa que jamais poderia aceitar em um grupo para o qual estou entregando a minha própria vida. É bom lembrá-los de que por razões ainda não bem explicadas, muitas pessoas são capazes de ver e ouvir, mesmo estando bem anestesiadas, lembrando-se de tudo o que aconteceu, quando voltam da anestesia...

Finalmente, quero lhes pedir que respeitem minha condição de “ser humano”, independentemente de ser um paciente particular rico, ou um anônimo indigente, recolhido pelas ruas. Afinal, sou alguém exatamente igual a vocês, filho do mesmo Pai, criatura do mesmo Criador. E só por isto, mereço o mesmo respeito que vocês dedicam às suas mães, a seus irmãos e a vocês mesmos. Ainda que não acreditam no Deus Criador de tudo e de todos, façam por mim, o mesmo que gostariam que lhes fizessem! Muito obrigado!”



(fonte:
http://www.redenacionaldetanatologia.psc.br/Artigos/artigo_11.htm)

Um comentário:

Fernanda Raquel disse...

Adorei esse artigo parabens vc e uma pessoa muito observadora. que seu domingo seja de muita paz..
bjkas Fer